Bar e artista internacional cearense fazem homenagem ao músico Belchior no bairro Benfica
Um bairro boêmio e musical como o Benfica merece ter uma homenagem a um dos maiores artistas do estado como Belchior. Foi pensando assim que o empresário Tárcio Lira, dono do bar e restaurante Paraíba Raiz, em frente a Praça João Gentil, no Benfica, decidiu realizar um investimento em arte urbana que trouxe beleza para a casa noturna e para o bairro de Fortaleza. Para isso, Tárcio contratou os serviços de um dos artistas urbanos mais importantes do Ceará: o grafiteiro, muralista e produtor cultural Wesley Rocha. Artista visual, ele nasceu no bairro do Bom Jardim e conquistou o mundo com sua arte. Autodidata, iniciou sua trajetória artística em 1999, desenvolvendo faixas para torcidas de futebol, utilizando o aerógrafo como instrumento. Antes disso, observava o pai, José Sérgio Magalhães da Rocha, pintor imobiliário e funileiro, com quem teve o primeiro contato com tintas e pincéis.
“Pintar o Belchior para mim é único, sempre. Sua obra me deixa impactado sua poética é atemporal. Quando eu conversei com o Tárcio sobre qual seria a arte, o Belchior foi a primeira imagem que veio. Foi simultaneamente a confirmação, Tarcio me falou que ele já morou na região quando estava na universidade, é que já havia pensado no Belchior”, afirma o artista sobre a escolha do tema. “O Benfica não é somente um bairro boêmio, mais sim, um bairro onde é ponto de encontros de grandes artistas. No período que estava produzindo o mural conversando com muitos artistas que passavam para me cumprimentar, ouvi muitas histórias de como o bairro sempre foi ponto de encontro dos músicos e poetas do Ceará. É claro que o Benfica ainda continua respirando cultura”, afirmou Wesley, que terminou a pintura na segunda, 27/02.
“O Paraiba Bar movimenta e resgata o bairro com suas atividades culturais e movimentando e impactando positivamente o bairro em todos os sentidos. O mural do Belchior é um presente meu e do Paraíba para que tudo que o Benfica representa para cidade de Fortaleza. Hoje quem chegar no bairro pode curtir o futebol no estádio Presidente Vargas, o PV, e ao mesmo tempo ouvir música de qualidade e desfrutar de uma vasta gastronomia”, disse Wesley Rocha, elogiando a iniciativa do Paraíba Raiz.
Desde 2005, Wesley mora em São Paulo (SP), aonde se familiarizou com as técnicas do grafitti e se transformou em um muralista que realiza trabalhos realistas em grandes dimensões com temáticas brasileiras que dão visibilidade às populações indígenas, negras, mestiças e nordestinas. Sua produção artística está presente nas cidades de Fortaleza, Paracuru, São Gonçalo do Amarante, Canoa Quebrada, Jericoacoara e Sobral, no Ceará, Guarulhos, Araçoiaba da Serra, na capital de São Paulo, Teresina/PI e ainda em países como Portugal, Londres e Suíça.
Em São Paulo, participou de grandes eventos e festivais, como o Arte Cultura na Kebrada e a Virada Sustentável. Em Fortaleza, participou da CowParade em 2018. Em Guarulhos, integra a The Brazilians Crew. Como palestrante, já falou sobre arte urbana na Universidade Federal do Ceará (UFC) e na Universidade Estadual do Ceará (UECE).
No Ceará, foi idealizador e curador da mostra de graffiti “Águas do Nordeste“, uma parceria com a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), evento que movimenta em torno de 50 artistas, com apoio da Central Única das Favelas (CUFA), entidades na qual atua como articulador cultural na região Nordeste. Também no estado, idealizou o projeto “História Viva”, em parceria com o Governo do Estado do Ceará e o Metrô de Fortaleza (METROFOR), para criação de painéis artísticos nas comunidades próximas às estações.
Ele também tem trajetória no audiovisual, como documentarista, área na qual desenvolve trabalho ativista da causa indígena. Dirigiu o curta “Pitaguary”, gravado na reserva indígena de mesmo nome em Maracanaú (CE) e selecionado para a 8ª Mostra Audiovisual de Dourados. Também fundou, em 2022, o podcast Rua Cria, de Fortaleza, que conecta as ideias da cena de rua. Entre as personalidades já retratadas pelas mãos de Wesley, estão o cantor Belchior, o pescador mestre Jerônimo, personagem histórico do bairro do Mucuripe, em Fortaleza, Padre Cícero, o músico Patativa do Assaré e o educador cearense Paulo Freire, os dois últimos imortalizados na Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Os personagens escolhidos, geralmente, são autênticos e próximos das pessoas simples das cidades, para maior identificação. Ele também desenvolve pinturas em telas e ambientes internos, na área de decoração de interiores. O Paraíba Raiz mantém uma programação musical diversificada com diversos artistas de Fortaleza, nos mais variados gêneros, que vai do Chorinho ao Rock, passando pelo sertanejo e outros ritmos.
O ESTADO – Como você se envolveu com as artes plásticas e a pintura? Fez algum curso ou é autodidata? Como você definiria esse trabalho hoje que embeleza cidades do mundo inteiro?
WESLEY ROCHA – Comecei na periferia de Fortaleza, bairro do Bom Jardim, em 1998. Meu primeiro contato com tintas foi com meu pai que é pintor imobiliário. Quando adolescente conheci a técnica aerografia …aí surgiu o despertar para as artes plásticas. Comecei fazer em alguns suportes como camisetas e faixas para torcidas organizadas, no ano de 2004. Fui morar em São Paulo onde trabalhei por 14 anos na aerografia em decorações de festas produzindo cenários. Lá em São Paulo conheci o Graffiti e a cultura hip hop, morando na periferia da zona leste. Produzi muitos murais de graffiti na região, hoje defino minha arte como Muralismo. Uso várias técnicas de pintura, mais precisamente uso spray como principal forma de produção artista. Minha poética artística é o resgate da cultura nordestina e indígena no Nordeste, assim trazendo relevância para a cultura popular.
O ESTADO – Quais as suas inspirações, artistas que admira, referências? Quais grandes obras que você destacaria do seu trabalho?
WESLEY ROCHA – Minhas principais inspirações artísticas são Belin, artista espanhol que é mestre no realismo e cubismo e tem na sua essência o graffiti, e também o pintor Holandês Rembrandt Harmenszoon, além de artistas brasileiros como Os Gêmeos e Eduardo Kobra. Uma das obras que eu destacaria seria do Mestre Jerônimo, um pescador cearense, conhecido pela Saga dos jangadeiros pescadores, que foram de jangada do Ceará ao Rio de Janeiro falar com o presidente da época. Fiz o mural no Mucuripe, é um painel que produzi e aprendi muito sobre valorização da histórias não contadas nos livro, mas de muita representatividade para novas gerações.
O ESTADO – Uma arte acessível e que às vezes transforma bairros em pontos turísticos. O que falta para a arte dos muralistas conquistarem ainda mais o mundo?
WESLEY ROCHA – A arte urbana está em ascensão. Muitas cidades estão valorizando e dando suporte a artistas que estão iniciando e nomes conhecidos. Grandes Festivais pelo Brasil formenta bastante a cena de arte urbana. O que falta na minha visão que em cada região e cidade teria que dar melhores espaços e murais para artistas locais, assim incentivando as novas gerações a se inserirem na cena com mas relevância, além de facilitar editais e melhorar cachê (risos) por que o impacto que a arte urbana tem na cidade é imensurável. tlTem muitos artistas que não tem nenhum suporte e fazem muitos murais que favorece suas quebradas .. o intuito não é somente embelezar mais sim trazer uma mensangem que transforme positivamente a realidade das pessoas.
O ESTADO – Um de seus últimos trabalhos homenageiam Belchior no Benfica, o bairro mais boêmio de Fortaleza. Como foi a proposta do empresário Tárcio Lira do Paraíba Raiz, e o que achou do resultado? O que acha do Benfica e do Paraíba Bar?
WESLEY ROCHA – Pintar o Belchior para mim é único. Sempre sua obra me deixa impactado, sua poética é atemporal. Quando eu conversei com o Tárcio sobre qual seria a arte, o Belchior foi a primeira imagem que veio …foi simultaneamente a confirmação, Tarcio me falou que ele já morou na região quando estava na universidade, e também pensou no Belchior. O Benfica não é somente um bairro boêmio, mais sim um bairro onde é ponto de encontros de grandes artistas. No período que estava produzindo o mural, conversando com muitos artistas que passavam para me cumprimentar, ouvi muitas histórias de como o bairro sempre foi ponto de encontro dos músicos e poetas do Ceará. É claro que o Belfica ainda continua respirando cultura. O Paraíba Bar movimenta e resgata o bairro com suas atividades culturais, e movimentando e impactando positivamente o bairro em todos os sentidos. O mural do Belchior é um presente meu e do Paraíba para tudo que o Benfica representa para cidade de Fortaleza. Hoje quem chegar no bairro pode curtir o Futebol no PV e ao mesmo tempo ouvir música de qualidade e desfrutar de uma vasta gastronomia.
O ESTADO – Qual seu maior sonho? Quais serão seus próximos trabalhos?
WESLEY ROCHA – Meu sonho é que minha arte possa estar no máximo de lugares. A arte urbana é conexão, me conectar e pintar em lugares que não conheço que me motiva a estar produzindo murais de qualidade para cidades. Quero conhecer outros países e culturas. Meus próximos murais serão na cidade de São Paulo e no interior do estado. Depois vou para Portugal fazer 2 murais no segundo semestre, tambem estou trabalhando no meu documentário que vai contar minha história de 25 anos de arte.. falando do meu início até hoje. Vai estar disponível no final do ano.
SERVIÇO
PARAÍBA RAIZ
Endereço: Rua Paulino Nogueira, 96 – Benfica, Fortaleza – CE
Aberto segunda a quinta das 17h às 00h
Sexta a domingo, de 17h a 1h.
Contato: (85) 98942-8998
Instagram: paraiba.raiz
Fonte: https://oestadoce.com.br/arteagenda/arte-do-muralismo-de-wesley-rocha-no-paraiba-raiz/